Nem é preciso ser um expert para decifrar o porquê dessa quase compulsão da humanidade pelo gosto adocicado. Além de agregar sabor e textura às preparações, ele agrada o paladar de qualquer um, desde os bebês que desfrutam da lactose do leite materno até as vovós que recorrem ao bolo de fubá quando recebem os netos para o chá da tarde. “E é claro que não é necessário banir completamente os alimentos adocicados da dieta”, enfatiza o endocrinologista Márcio Mancini, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “O segredo é reduzir as doses açucaradas”, sugere. Tenha certeza de que, se comer na medida certa, além de desfrutar de tantas delícias, sua saúde vai sair ganhando — e muito.
Errar a mão e exagerar na dose também tem muito a ver com a doçura escondida na comida industrializada. Como você observa, logo acima, o refrigerante pode ocultar até 37 gramas de açúcar. Então, se apenas uma latinha já atinge quase a cota diária, imagine se somarmos outros itens doces devorados ao longo do dia? “O excesso provoca uma elevação rápida da glicose no sangue”, responde a endocrinologista Anete Hannud Abdo, do Projeto de Atendimento ao Obeso, da USP. Esse aumento faz o pâncreas produzir e liberar mais insulina, o hormônio responsável pela passagem da glicose para as células dos vários tecidos do corpo. Acontece que, quando a fabricação desse hormônio se dá de forma, digamos, desmedida, o pâncreas acaba sobrecarregado e o diabete do tipo 2 pode dar as caras.
“Um estudo publicado no American Journal of Public Health, com 91 249 mulheres, mostrou que aquelas que bebiam um ou mais copos de refrigerante por dia apresentavam duas vezes mais risco para o diabete do que as que tomavam menos de um copo por mês”, conta Anete. Sem falar que os picos de insulina também estão por trás do ganho de peso e propiciam o acúmulo de gordura visceral. E, assim, o enredo da história continua com o sabor do fel. Afinal, por mais jocosa que possa parecer a barriga de chope, de inofensiva ela não tem nada. “O tecido adiposo da região abdominal é capaz de interferir na produção de substâncias que causam inflamações”, explica o professor Márcio Mancini.
Novamente quem está no alvo é o coração. Isso porque, quanto maior o número desses tipinhos inflamatórios dando sopa no sangue, maior a propensão para a aterosclerose, a formação de placas de gordura nas artérias. Como você acaba de perceber, numa espécie de círculo vicioso, voltamos ao assunto tratado no começo desta reportagem e é de lá que vamos resgatar outra informação: não é preciso banir o açúcar. “Na nutrição moderna não existem vilões. Esse conceito de proibição está completamente ultrapassado”, sentencia Gisele Goveia, nutricionista do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Para reduzir o açúcar no dia a dia, a dica é ficar atento aos produtos industrializados. “De nada adianta não adoçar o café e exagerar nos biscoitos doces”, exemplifica a química Sandra Cruz, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a Esalq, em Piracicaba, no interior paulista. Outra sugestão é reeducar o paladar. “O processo pode ser demorado, mas vale a pena experimentar sucos, chás e até bons cafés in natura”, diz Raquel Botelho.
Para reduzir o açúcar no dia a dia, a dica é ficar atento aos produtos industrializados. “De nada adianta não adoçar o café e exagerar nos biscoitos doces”, exemplifica a química Sandra Cruz, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a Esalq, em Piracicaba, no interior paulista. Outra sugestão é reeducar o paladar. “O processo pode ser demorado, mas vale a pena experimentar sucos, chás e até bons cafés in natura”, diz Raquel Botelho.Na hora de botar o avental e ir para a cozinha, o recado é incluir mais frutas e sucos naturais nas receitas de bolos e outras preparações. “Adicionar uma pitada de sal aos doces ajuda a realçar o dulçor”, ensina, ainda, Flora Spolidoro. Outro ensinamento precioso vem da nutricionista Thais Arthur, do Hospital das Clínicas de São Paulo: observe os rótulos! “Na lista de ingredientes, se a palavra açúcar estiver na primeira posição, significa que há grande concentração dele”, diz.
A nutricionista Josefina Bressan, da Universidade de Viçosa, no interior de Minas Gerais, indica o consumo de alimentos adocicados que tragam junto boas doses de fibras. “Dessa forma a liberação de glicose é mais lenta, o que poupa o organismo dos picos de insulina”, explica. A professora ressalta, também, que é melhor ingerir com moderação os produtos industrializados com frutose na fórmula. “Estudos mostram que essa substância faz aumentar ainda mais as taxas de triglicérides”, revela. Sua colega Evie Mandelbaum, especialista em cardiologia pelo Incor, acrescenta: “Além de ficar de olho no açúcar, lembre-se de que as melhores escolhas são as que têm pouca gordura”. E, finalmente, vale analisar se a compulsão por doces não tem fundo emocional. Um bombom para aliviar o estresse é muito bem-vindo porque ajuda na produção de substâncias prazerosas, mas jamais caia na tentação de comer a caixa inteira.
Ranking açucarado
Para evitar excessos, vale ter cautela diante do açucareiro e moderação com os alimentos que já carregam no ingrediente, como os que você vê a seguir:
1º Refrigerante tipo Cola
1 lata (350 ml) tem 37 gramas de açúcar, ou 2 1/2 colheres de sopa
2º Iogurte de frutas
1 pote (170 g) tem 30 gramas de açúcar, ou 2 colheres de sopa
3º suco de laranja industrializado
1 copo (200 ml) tem 26 gramas de açúcar, ou quase 2 colheres de sopa
4º Bolo de chocolate
1 fatia (80 g) tem 20 gramas de açúcar, ou 1 1/2 colher de sopa
5ª Granola
¾ de xícara (50 g) têm 17 gramas de açúcar, ou 1 colher de sopa cheia
6º Sorvete de morango e...
1 bola (60 g) tem 14 gramas de açúcar, ou 1 colher de sopa
6º ... achocolatado
1 colher (20 g) tem 14 gramas de açúcar, ou 1 colher de sopa
7º Cookies e...
3 unidade (32 g) têm 10 gramas de açúcar, ou 1/2 colher de sopa
7º... barrinha de cereais
1 unidade (28 g) tem 10 gramas de açúcar, ou 1/2 colher de sopa
8º Ketchup
1 colher (15 g) tem 4 gramas de açúcar, ou 1/4 colher de sopa
Acerte nas colheradas
A Organização Mundial da Saúde sugere, no máximo, 10% das calorias diárias de açúcar, ou seja, em uma dieta padrão de 2 mil calorias, o consumo deve ser de até 200, o que equivale a 50 gramas ou 3 colheres de sopa.
Fonte: Revista Saúde